Passou recentemente a data de comemoração do centenário de nascimento do Dr. Mário Soares.
Muitos sabem quase tudo sobre o homem que foi europeu convicto, pragmático e, sobretudo, amante da liberdade. Outros tantos, fingem não querer saber mas, o exemplo do homem que foi quase tudo, deportado, exilado, preso político, homem livre e alegre num país de cidadãos tristes, ficará, inevitavelmente,, como exemplo de quase tudo o que é possível dever a Mário Soares.
Decorreram e vão continuar, todas as cerimónias que imortalizam na História o nome do cidadão que foi quase tudo na Política do país. Igualmente, tenho pena que muitos dos que andam por aí, continuem a querer esquecer o homem a quem o país tanto deve…
Das cerimónias que decorreram e das muitas palavras que fui ouvindo sobre o Homem, figura importante a marcar o século XX, é sempre bom registar que a História se faz de mulheres e homens, tantos, tantas vezes, que parecem ser únicos… Porque são diferentes, porque são maiores, algumas vezes…
Soares, de tudo o que foi, de tudo o que fez e que não preciso de repetir, destacou-se por ter sido, sempre, igual a si próprio, um optimista convicto, um homem de uma só cara e sempre, sempre, defensor sério da Liberdade. É certo que se orgulhava de ter lançado o S.N.S., a Educação, o estado Social, fundador do P.S. Orgulhava-se do seu papel na adesão à CEE (1985-86) e, sempre, a sua defesa da liberdade para todos, alicerçada na sua coragem política.
Fui jovem, política activa no tempo das lutas empenhadas de Mário Soares. Discordei de algumas das suas tomadas de posição e apoiei intransigentemente outras das suas lutas. Tive a sorte de estar perto de Mário Soares algumas vezes, de ter falado com ele outras vezes e, guardo do Político que ele foi, algumas lembranças que não se podem perder…
Quem não recorda, e tenho de falar assim para gente do meu tempo, da vinda de Mário Soares a Paços de Ferreira, no tempo distante do MASP? Tive, tivemos, um papel empenhado e responsável nessa campanha eleitoral e, apesar da chuva, numa rua da cidade, com sede improvisada, o então candidato Soares, mostrou ser um homem especial, diferente, animado, livre…
Há, tem de haver uma distância geracional e até uma evidente diferença ideológica entre Mário Soares e os dias de hoje, mas o que fica, o que temos mesmo de guardar é o seu enorme legado, o seu enorme contributo para a História do país e, como exemplo maior e incansável, a sua luta pela Liberdade. Guardemos esse exemplo!
Conheço testemunhos que dizem ter sido um privilégio privar com Mário Soares. Não duvido disso. Porque contava sempre histórias verdadeiras, porque falava empenhadamente de Política, porque, afinal, falava de tudo, com todos. Porque dava gargalhadas sonoras, porque dormia em qualquer lugar, livremente. Porque amava a vida e, sobretudo, amava tanto a liberdade! Um homem de desafios! Nunca se assustou com sondagens, sempre soube contrariar o que parecia ter de acontecer e por isso foi tudo o que quis ser. Foi, claramente, a figura mais marcante do nosso século XX e, se o slogan que lhe foi atribuído, “Soares é fixe” ainda perdura, acho-o redutor para o Homem que nos ensinou a democracia, para o Homem que nos ajudou firmemente a viver em Liberdade!
Hoje, alguns anos após a sua morte, ainda o sentimos connosco. Amanhã, porque o seu exemplo está registado, deverão todos seguir o seu exemplo, a sua força, para enfrentar o tempo que há-de vir…
E, entretanto, fica connosco a pergunta: o que pensaria Soares do mundo, hoje?