Li um título próximo deste, em alto de página e, se a curiosidade ou a falta de interesse não me levou aos textos próximos desse título, trouxe-me, de novo, motivos de escrita. Que surgem sempre associados à vontade de querer estar com os outros. Através da escrita, também.
Chove, a paisagem sombria marca o Outono… Não oiço as rolas que costumam andar por aí… Os melros habituais também se afastaram e, de tudo o que se pode ainda fazer, fica em destaque a leitura onde sempre me refugio.
Agora, outra vez, as centenas de páginas de uma longa Biografia de Sophia, uma nova edição em função da publicada pela primeira vez no centenário do seu nascimento, em 2019. Esta, volta a percorrer os lugares que fizeram parte da história da poeta, fala com quem ela privou, companheiros das Letras e da política, tradutores e investigadores, dezenas de testemunhos que ajudam a compreender o contexto histórico e as relações familiares e literárias da autora/poeta.
Gosto, especialmente, de ler Biografias! Gosto de apreciar e estudar hábitos e costumes, modos de vida, também. E não é difícil, agora nada difícil, recordar o percurso de vida de uma mulher tão especial. Que foi a primeira portuguesa a receber o Prémio Camões e que é a única mulher escritora sepultada no Panteão Nacional. Para além de outras particularidades que me preenchem e que me ajudaram a recordar o passado. De todas, algumas bem especiais, que me ajudam a avivar o tempo que passou…
Nasceu no mesmo ano que a minha mãe, 1919, e, também com Sophia, aprendi cedo a gostar da Grécia, da sua cultura, da sua paisagem, naturalmente.
Há muitos anos, no meu curso em Coimbra, estudei História da Cultura Clássica com uma Professora especial, que me ensinou a Cultura Helénica, que me fez descobrir a civilização minóica e micénica e, quase, quase me fez chegar ao Olimpo, a moradia dos deuses… Estiveram nessas aulas a Cultura, a paisagem, a arte de Micenas, de Delfos, de Epidauro, de Atenas e, em cada uma, parte ou partes da História que guardei e que, anos depois, tive a sorte de visitar e de confirmar… Atena, Marte, Poseidon, Zeus… foram deuses que serviram de adorno na Epopeia de Camões… e também fizeram parte da mitologia grega que Sophia também utilizou. E depois… também o mar que a poeta biografada sempre procurou!
Neste longo texto, agora, aproximei-me de novo da Grécia que eu tanto apreciei, juntei-me de novo a Sophia e fui capaz de rever matérias, de revisitar espaços e de rever mitos e figuras que a História guardou. Sem favores ou dificuldades, consegui reencontrar Sophia, vi livros e lugares que guardarei para sempre. Para muitos, a poeta de que falo era altiva, austera, distante às vezes. Nem sempre foi terna mas houve, havia palavras que lhe assentavam muito bem: a coragem, o amor, a beleza, o mar… Isso tudo e muito mais ficou nos seus poemas que foram, afinal, o único lugar onde melhor a pude encontrar!
Sophia deixou-nos contos maravilhosos para crianças e textos excelentes para adultos. Teve a coragem de dizer adeus às armas quando constatou que, depois do 25 de Abril, a poesia esteve na rua e, na sua escrita limpa, simples, directa e solidária, sempre soube arrastar o leitor…
Hoje, em dia de ficar, vou continuar a reler Sophia. Assim:
“Mar
Metade da minha alma é feita de maresia”
Porque aqui está o mistério, o sonho, o sublime… Porque esta é uma poesia de recolhimento e de partilha! Vou ter de continuar…