Respeito / Zela / Lei / Leste / Sol / Ano / Alberto Santos -Rebanho / Desligamento / Futuro, Máscara / Avós / Língua / Analfabeto / Oportunidades /ladrão de memorias / pandemia

Há dias, um amigo comentava comigo ter sido vítima de um delito de amizade. Fiquei a olhar para ele, descrente que alguém pudesse ser vítima de um amigo, ou que ser amigo de alguém pudesse ser delito, mesmo que pessoa em causa não fosse propriedade o baluarte dos pergaminhos morais. E tentei explicar-lhe a minha visão de que a amizade também se pode oferecer a quem outros não apreciam, e que isso não corresponde a qualquer delito, nem moral nem jurídico. Nem deve ser gratuitamente censurado ou punido.

Foi então que ele me explicou que não era bem assim, pois o facto de alguém ser amigo de outra pessoa, para quem não aprecie essa pessoa, isso possa transformar-se no maior dos delitos. E deu-me alguns casos em que isso ocorreu.

Procurei desvalorizar. Afinal, tudo depende da perspetiva de onde se mira a questão. E até recordei o velho adágio “diz-me com andas e dir-te-ei quem és”. Mas ele logo retorquiu que o adágio até se ajustava ao seu ponto de vista. O meu amigo queria ser como era, dando-se bem com quem lhe censurava a amizade de terceiro e com quem não era por ele apreciado. E que isso não fazia dele pior pessoa.

Percebi a sua perspetiva. Mas expliquei-lhe que quem cobra as amizades dos amigos e os pune por esse delito, talvez até nem seja má pessoa, mas apenas alguém com um dia menos bom, uma cegueira momentânea para atingir a terceira pessoa, e não o amigo que fica no meio.

Ele não concordou, alegando que quem ficava no meio é que pagava a verdadeira fatura. E enviou-me um texto de António Miguel Ferreira, no jornal Sol, que dizia: Nas relações profissionais, nas relações familiares, nas relações de falsa amizade, etc., este é um tema que normalmente os que deviam ser gratos e respeitadores não gostam que se aborde. Porque sabem que o exercício e a força da sua prática serão um dia a sua fraqueza. Isto se tiverem tempo para fazer alguma ‘coisa de jeito’ na coisa pública. Porque normalmente são bons a cacicar, são bons nos bastidores, mas péssimos na ação reflexiva, discursiva e nas relações humanas estáveis. (…) Até porque vivemos tempos em que o generalismo e o estado de amnésia em relação a muitas coisas da vida coletiva, cívica e associativa é grande demais.

Subscreva a newsletter do Imediato

Assine nossa newsletter por e-mail e obtenha de forma regular a informação atualizada.


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *