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Tendemos a perpetuar estereótipos que colocam erradamente num mesmo saco, uma absurda disparidade de diferentes propostas, apenas porque existem entre eles uma característica comum. Este vicio prende-se com a preguiçosa necessidade de arrumar conceitos em facilitadoras caixas mentais, para que tenhamos uma rápida percepção do objecto sobre o qual nos estejamos a referir.

A título de exemplo, veja-se como de forma desinformada, descrevemos amiúde, uma pessoa que vive num meio rural, como alguém que cuida de cabras e fala com sotaque que carrega nos ésses; observe-se como imprudentemente, se aponta um jovem de uma qualquer periferia ou subúrbio, como um marginal com hábitos de vândalo e que anda com uma naifa no bolso; o mesmo se passa, quando evocamos alguém que é proveniente da cidade Porto e facilmente lhe atribuímos uma forte apetência para má criação, pessoa que recorrentemente abusa do calão e que no fundo é um desbocado. Refiro estes exemplos para chegar a um outro, embora um pouco distinto, mas que me é particularmente caro, porque dou conta, que numa eventual reportagem, que pretenda aferir o sentimento de uma sociedade afetada por uma qualquer crise financeira, recorrentemente esse meio de comunicação social, cai na esparrela de identificar a pior loja de comercio tradicional de determinada cidade, para perguntar ao seu proprietário sobre o impacto da crise nas vendas, ao que este responderá, de braços cruzados, reforço, de braços cruzados, ui isto está muito difícil, isto já não é como dantes.

No nosso quotidiano, na nossa comunicação diária, talvez como recurso humorístico, aceito facilmente, que usemos esse tipo de refúgios, porque existe sempre a possibilidade de o nosso interlocutor dizer, olha que já não é bem assim. Mas nos meios de comunicação, com a responsabilidade social inerente à atividade, perpetuar estes estigmas, parece-me no mínimo injusto e irresponsável.

Alguém que opta por viver no campo, numa zona mais tranquila, preterindo a confusão da cidade, não é, pelo menos por esta circunstância, um aldeão, digo aqui aldeão, buscando o tom mais pitoresco e eventualmente depreciativo da palavra. Assim como, alguém que vive numa determinada zona, onde os índices de criminalidade são elevados, não deve ser conotado por defeito, como um delinquente ou um marginal. Também acho desleal que se associe a alguém que vive num qualquer bairro da cidade do Porto, como uma pessoa que usa palavrões em substituição de virgulas. Regressando ao exemplo que me é de especial importância, numa altura em que o comércio digital ganhou um protagonismo incontestável, pretendo fazer a defesa do comércio tradicional, porque felizmente, vamos encontrando bons exemplos de sucesso e integração plena e não será por encontrarmos algumas lojas que definharam, que estas terão de representar o todo, pois estejamos atentos, muitos bons exemplos de lojas físicas de comércio tradicional nas cidades, vilas ou aldeias, vingaram e vão continuar a surpreender-nos.

As generalizações facilitam que se conserve no imaginário comum os estigmas que a todos prejudicam, porque qualquer um de nós, em algum momento, será catalogado com determinada característica, que tanto pode ser injustamente prejudicial, ou por vezes até, falaciosamente abonatória, mas esta segunda aguentamos melhor, apenas por pertencer a um grupo, cujas idiossincrasias sejam muito exacerbadas.

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