Invasão do capitólio ou sintoma de doença na Democracia

Aproximam-se mais umas eleições, as que denominam como europeias. Tipicamente, são daquelas cuja adesão é mais fraca. É um lugar-comum dizer-se que os portugueses, talvez, até, todos os que votam na Europa, dão pouca importância a este ato eleitoral. A perceção mais generalizada é a de que se trata de uma espécie de “exílio” dourado para uma série de políticos, cuja missão é a de dar um aspeto democrático a instituições que não o são, isto é, dão uma roupagem democrática a uma tecnocracia, cuja transparência é muito pouca. Uma tecnocracia não se move, ao contrário do que se pretende fazer, por qualquer ideologia, mas sim por um conjunto de interesses que é imperioso salvaguardar, que normalmente apelidam de “valores ocidentais”, levando-nos a acreditar que nos cabe a todos lutar pelos mesmos. Trata-se de uma capa bonita, um papel de embrulho apelativo, para um conteúdo que escapa ao grosso dos povos europeus, essencialmente preocupados com o seu dia a dia: o papel de embrulho é, justamente, a gestão tecnocrática dessas expetativas de modo a não perturbar a “paz social”, leia-se “apaziguamento das massas”, tão necessária à tal preservação de interesses.

Escapa, então, aos europeus em geral e aos portugueses em particular, que a maioria das decisões importantes são tomadas em sede europeia. A maior parte da legislação, sobretudo, aquela que impacta o tal dia a dia, é uma transposição de normas europeias, a qual, muitas vezes não têm em conta a realidade física e social dos países. Mais, numa contemporaneidade, onde a manutenção ou assalto ao poder, já é feito despudoradamente, ou seja, onde a linha programática de acordo com um determinado tipo de princípios políticos próprio de cada família política se dilui, maior atenção deveria ser dada por todos nós a este tipo de eleições.

É óbvio que o dar atenção, significa, não só, votar, como também, exigir que a política volte a controlar essas instituições de uma forma clara. Não é possível, continuarmos a assistir a uma campanha eleitoral, como a presente, na qual os cabeças de lista parecem mais interessados em esgrimir conceitos abstratos que se referem à tal tecnocracia ao invés de indicarem caminhos para a dominar. Portanto, da parte dos cidadãos há que, em primeiro lugar, ser muito mais exigente com quem se candidata e depois, participar de modo a garantir uma perceção a esses políticos qual o rumo pretendido para o espaço do qual fazem parte. Continuar de mão estendida, olhando para a Europa, como uma espécie de pai natal, quando de facto, nunca o foi, nem o quer ser. Trata-se de um espaço, concordando-se ou não, onde Portugal está integrado, do qual depende, mas também, no qual, tem voz. A voz é nossa, devíamo-la fazer ouvir bem alto. Se ficarmos calados e não participar, deixamos o espaço aberto a outros, espaço não só em termos de decisão como da própria autoridade para o fazer. No fim, é o que os extremos das correntes ditas de esquerda e de direita, sobretudo, esta, estão a fazer.

A escolha, como se percebe, é bem mais profunda do que pode parecer pela distância que deixamos que nos influencia, mais a mais, num país tão pequeno como o nosso: pequenas distâncias noutras realidades, na nossa são grandes. Na verdade, não existe nenhuma distância, já que as decisões impactam a nossa vida de imediato. Não há nada mais a percorrer senão a publicação dessa decisão. É com esta consciência que devemos exigir, que devemos participar, que devemos votar. A Europa não é longínqua, somos nós!

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