Modelo Opiniao

Desengane-se o louco que crê piamente na falta de importância das eleições europeias para o futuro de cada de partido e respetivo líder. O dia 9 de junho de 2024 é a data capital definida pelo Presidente da República, em concordância com o Conselho da União Europeia, que determinará os deputados eleitos para o Parlamento Europeu.

A data terá diferentes significados para cada força partidária e os resultados podem ter impacto internamente. Seria de deduzir pelos resultados das Legislativas que a AD seria favorita. Certo? Bem, talvez não. Se é verdade que o PS levou a melhor nos dois mais recentes embates europeus, também é verdade que não está atrás no que a sondagens diz respeito. Na última sondagem da Aximage, o PS está 6 pontos percentuais à frente da AD e as implicações para a força e estabilidade do Governo são evidentes.

Marta Temido foi o nome escolhido pelos socialistas para liderar a candidatura europeia. O facto de a escolha ter recaído sobre a ex-Ministra da Saúde revela duas coisas: que o PS acredita ter feito um excelente trabalho na gestão na pandemia e acredita categoricamente que os portugueses acham o mesmo. Marta Temido está, para o bem e para o mal, associada ao combate contra o COVID-19. Bem, pelo menos até Gouveia e Melo ter aparecido e ter dado uma bela ajuda, qual D. Sebastião. Será, ainda assim, uma aposta segura, até porque uma vitória socialista implica fragilidade no Governo. Não o digo da boca para fora. Importa não esquecer que há Orçamentos de Estado a serem negociados no futuro e se o PS ganhar evidências do retorno da sua força pode facilmente deixar o executivo embaraçado. Não é segredo nenhum que Montenegro não governa sozinho. E não me refiro aos restantes elementos do seu Governo.

Perante este cenário, será claro como a água que a AD apresentará um cabeça de lista seguro, que recolha boas graças dos portugueses e seja num nome forte e de longa data para fazer face a este Triângulo das Bermudas eleitoral. Certo? Bem, talvez não. A comunicação social já há algum tempo que apontava o nome de Rui Moreira, atual presidente da CM do Porto, para liderar a candidatura da AD à contenda europeia que se aproxima. Um candidato que venceu através de uma candidatura independente e, indubitavelmente, um nome com as características que acima referi. Aparentemente, sim, foi escolhido. Mas para número 2 da lista encabeçada por Sebastião Bugalho. Naturalmente, recusou. A verdade é que o mediático comentador político de 28 anos que não tende a ser poupado nas palavras foi a companhia de muita gente nas eleições deste ano, especialmente na análise aos debates televisivos dos líderes partidários. Já dizia um velho sábio, prognósticos só no fim do jogo, mas a escolha da AD é, no mínimo olímpico, arrojada e ousada. Rui Moreira seria, evidentemente, uma certeza com provas dadas. Bugalho nem tanto, em virtude da idade e experiência política. Mas num período em que se fala tanto da falta de jovens na política, que bela jogada de afronta da AD ao status quo. Veremos se vingará.

O CHEGA, que concorre pela primeira vez sozinho às eleições europeias, apresenta Tânger Corrêa como comandante do navio e prepara-se, ao que tudo indica, para eleger um respeitável número de eurodeputados. Já a IL aposta tudo no seu quadro mais valorizado, louvado e bem cotado: João Cotrim de Figueiredo é a escolha dos liberais. À Esquerda, o BE também aparece forte com Catarina Martins, a ex-líder, e o PCP com João Oliveira. O LIVRE apresenta Francisco Paupério como cabeça de lista, depois das polémicas eleições primárias abertas (que deixaram de ser abertas na segunda volta).  O PAN ainda não se pronunciou, ao contrário do ADN. Sim, o ADN depois do extraordinário resultado a 10 de março merece uma menção honrosa. Joana Amaral Dias, antiga deputada do BE, é a cabeça de lista do partido associado à direita radical evangélica. Sim, leram bem.

Estas eleições europeias serão certamente muito disputadas e o seu resultado será nuclear para aquilo que é a atualidade política em Portugal. Se o PS joga pelo seguro, a AD nem tanto, com as implicações que o povo entender dar. O povo, esse, é o verdadeiro poder soberano. Ultimamente, em especial no período anterior ao debate do programa do Governo, parece-me que há partidos que pregam o hino à liberdade de Zeca Afonso, mas depois querem ser eles quem mais ordena. Lanço o apelo para que, em plenos 50 anos do 25 de abril, se cumpram os seus valores e não apenas se finja cumpri-los. Que se dignifique a construção da Democracia e que a defendamos com a sua maior arma: a liberdade de expressão. Que se vença pelo conteúdo das ideias e não pela censura da discórdia. Que se acredite no povo português. Não é a vilificar que se cumpre abril, mas é a acreditar em Portugal se o celebra. Que se vença porque somos democratas. Que vença Portugal a 9 de junho.

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