Geração / Político / Autor de: Eleições / Nada / Dinheiro / Eleições / Faces Privilegiado / Este também é o sentido da vida

Passados 22 anos, a coligação Penafiel Quer desmoronou-se e dela nasceu outra coisa qualquer. Em 2001, Alberto Santos ganhava (finalmente) as eleições autárquicas em Penafiel, em detrimento de um PS que era rei e senhor há várias décadas. Com uma jogada de marketing muito à frente do seu tempo, com uma equipa jovem, alicerçados num político muito melhor que os outros (ainda o é), Alberto Santos e equipa ganharam a Câmara Municipal de Penafiel (CMP) e assim a coligação governou os últimos 22 anos do concelho. A coligação foi-se mantendo publicamente unida, exceto quando Mário Magalhães lançou a sua candidatura independente em 2017, deixando à vista alguns anticorpos que vinham ainda da passagem de testemunho para Antonino de Sousa em 2013 (até então, militante do CDS).

Ora, esta semana, no seguimento da renúncia de mandato do atual presidente da concelhia do PSD, foram apresentadas publicamente duas candidaturas à presidência da referida concelhia, sendo os candidatos concorrentes Antonino de Sousa (sim, o mesmo que até 2013 era militante do CDS) e Alberto Santos. Recordei-me imediatamente do que me disse um ator político (à data e atual) quando se tornou óbvio, em 2012, que o candidato da coligação seria o conservador Antonino de Sousa: “É a oportunidade de fazer desaparecer o CDS em Penafiel…”. Pelos vistos, o futuro tornou-se irónico quando são os conservadores que pretendem fazer desaparecer o verdadeiro PSD.

Estas duas candidaturas mostram o que há muito se desconfia: reina, o que parece ser, uma paz podre dentro do PSD Penafiel. Uma secção outrora jovem e idealista, tornou-se um partido fechado, alheado dos seus militantes, controlador das forças vivas do concelho (é ver quem lidera o desporto, os clubes, as associações de desenvolvimento, etc), pejando a CMP de quadros técnicos do partido, muitos deles sem qualquer tipo de competências para cumprir as funções exigidas. A minha geração é aquela que pela primeira vez consegue chegar em massa a cargos dirigentes de topo (por via de um curso universitário, mesmo que apenas prolixo) sem nunca ter feito, profissionalmente, nada na vida a não ser pertencer a partidos políticos ou a cargos governamentais. Quando muito, passam por empresas municipais ou AEC’s (cuja contratação é controlada pela CMP) ou aceitam ajustes diretos de consultoria. Ter estas pessoas, mais tarde, em cargos de gestão de topo das autarquias, é a receita para a tomada de decisões em prol da manutenção do statu quo, em detrimento da coisa pública e das pessoas (o que realmente devia interessar). Muitas vezes não o fazem por mal. Fazem-no, porque assim foram formados e porque simplesmente não sabem pensar de outra forma.

Voltando ao “terramoto” político no nosso politicamente pacato concelho, interessante será perceber o que dará esta divisão de forças. Por um lado, Antonino de Sousa que controla o aparelho que se funde entre o partido e a estrutura do município (e ao que parece a JSD) e por outro, Aberto Santos que certamente albergará muitos dos militantes de base, mais antigos e que almejam uma nova pujança na concelhia, ao jeito do que viram em 2001 (mais difícil agora dado que outros tempos, outras necessidades). Antonino, será candidato a Presidente da Concelhia do PSD mas não será candidato a Presidente da CM de Penafiel (atingiu o limite dos mandatos). Deverá fazê-lo para apoiar a candidatura de Pedro Cepeda a esse cargo. Pedro Cepeda é atual vice-Presidente da CMP, depois de Susana Oliveira o ter sido durante dois mandatos. A demissão desta do cargo de vereadora em finais de 2022, foi inesperado e ininteligível (até agora). Parece que temos dois interessados em ser Presidentes da CM Penafiel (Pedro Cepeda e Susana Oliveira) e cada um convocou o seu proxy político para os auxiliar nessa caminhada (Antonino de Sousa e Alberto Santos, respetivamente). Sim, porque não me

parece que Alberto Santos seja o candidato à Presidência da CM de Penafiel, caso ganhe a concelhia do PSD. Interpreto o seu ressurgimento à luta partidária, como um impulso pessoal de tentativa de corrigir aquilo que entende como uma injustiça. O seu artigo de opinião de 17/12/2022 no Jornal Imediato online, torna-se hoje claro quanto ao seu conteúdo e premonitório quanto ao seu objetivo. A sua última frase assim o esclarece… E atenção que Susana Oliveira, tendo o apoio de Alberto Santos, será uma candidata forte (também pela cartada da igualdade de género que tantos sucessos imediatos cria atualmente…).

Há cerca de 2 anos, antes das eleições autárquicas, escrevi que a Coligação Quer deveria perder essas eleições, pela mesma razão que ainda bem que ganharam as de 2001. Expliquei porquê e disse inclusivamente que me era indiferente de quem seria a vitória, desde que se tratasse de um partido (ou coligação) moderado e democrático. Escrevi isso exatamente porque o poder que se arrasta no tempo provoca tiques de controlo, de alienação social e de narcisismo. Vários artigos de vários jornais regionais publicados na última semana, interpretam a renúncia do presidente da concelhia penafidelense do PSD como uma estratégia de limitar o uso do direito de votar de militantes nas próximas eleições do PSD Penafiel (que seriam daqui a cerca de 1 ano), pela razão que nas últimas semanas estariam a entrar, para a estrutura concelhia, uma quantidade anormal de novos militantes. Ora, estes militantes só podem votar passados 6 meses da sua data de admissão. Se a eleição fosse de facto na data prevista, poderiam votar. Com a existência de eleições antecipadas, já não podem votar… A desculpa dada para as eleições antecipadas foi a preparação das eleições autárquicas de 2025. Se se mantivesse a data inicial, as eleições do PSD seriam em meados do próximo ano, mais de 1 ano antes das eleições autárquicas… Tempo mais do que suficiente para essa preparação dado que assim tem sido há várias eleições.

O que acontecerá tendo em conta o vencedor das eleições internas no PSD Penafiel? Ter a estrutura do partido é muito importante pelo que, quem ganhar as eleições, terá vantagem para as autárquicas de 2025. Se Antonino de Sousa perder essas eleições, não acredito numa candidatura independente de Pedro Cepeda. Não tem o necessário capital político nem o carisma necessário para convencer 40% dos penafidelenses. Teria uma derrota esmagadora e confrangedora. Acredito mais numa travessia no deserto de alguns meses e a sua reintegração controlada a médio prazo, dentro do partido, sujeito à liderança da Susana Oliveira. Se Alberto Santos perder, não tenho tanta certeza de que a Susana Oliveira não seja candidata independente. O capital político de Alberto Santos em Penafiel é único e certamente que durante os próximos 18 meses avaliaria por todo o concelho as reais hipóteses de uma vitória (neste caso acredito que poderia até ser ele próprio o candidato tendo em conta a maior dificuldade da empreitada). Nesta geometria aguarda o PS, que pode ver cair no colo a vitória, caso haja duas candidaturas de direita a dividir os votos entre si (situação conhecida pelo PSD/ CDS). É curioso como Alberto Santos pode perder as eleições internas entre os militantes do PSD mas ganharia, de longe, as eleições entre os penafidelenses. É a realpolitik…

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