Recentemente, um estudo que veio demonstrar que o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde está a decrescer, sobretudo na população mais desfavorecida economicamente. Entre os principais dados, destaque para a compra de medicamentos.
Em 2022, 1 em cada 10 portugueses, não comprou o medicamento prescrito pelo médico por causa do seu custo. E quando nos focamos nas classes mais pobres, verificamos que as dificuldades financeiras impediram 51% das famílias mais desfavorecidas de comprar os medicamentos receitados. Estes dados nunca foram tão graves. O pior registo era de 2013, com 21% das famílias mais pobres a relatar esta dificuldade.
Estes dados vieram alertar para uma realidade há muito denunciada pelos médicos e outros profissionais de saúde, principalmente em relação à população idosa. De acordo com o estudo, num país em que a maioria dos idosos tem uma reforma que ronda os 400 euros, a despesa com a saúde nesta população representa 30% do orçamento mensal. Que dinheiro sobra, no final, para pagar a renda da casa, a alimentação e outras despesas básicas para se ter o mínimo de dignidade? Há que fazer escolhas! Mesmo existindo um regime especial para as pensões mais baixas no que diz respeito à comparticipação de medicamentos, o aumento constante do custo de vida veio demonstrar, ainda mais, as fragilidades desta população.
No início deste ano, o Governo fez uma revisão do preço dos medicamentos. Os mais baratos, até 10 euros, aumentaram 5% e aqueles com preços entre 10 e 15 euros subiram 2%. Uma medida que pretendia combater a exportação de medicamentos e, assim, controlar a rotura de stock nacional. Acontece que nem a exportação de medicamentos diminuiu, nem a rotura de stock ficou controlada, com falhas constantes de medicamentos nas nossas farmácias. O que resultou, sim, foi num aumento de cerca de 2.5 euros no orçamento mensal de um doente polimedicado. Isto pode parecer pouco, mas convém lembrar que estes doentes são, normalmente, a população idosa com rendimentos mais baixos.
Quando os dados económicos nacionais indicam um excedente orçamental no 1º trimestre de 2023 e as projeções anunciam um superavit no final do ano, como se pode aceitar que a saúde dos portugueses, em especial dos idosos, esteja assim posta em causa? Como pode um Governo do partido fundador do SNS manter-se obcecado pelas contas certas, ignorando a realidade da saúde em Portugal?
A sabedoria popular ensinou-nos que “o que não tem remédio, remediado está”. Ora acontece que, aparentemente, nem “remediado” estamos nem “remédio” temos.