Sérgio Cunha começou esta sexta-feira a ser julgado no Tribunal de Penafiel, por ter matado com dois tiros de caçadeira a mulher com quem estava casado há mais de 25 anos, depois de esta lhe ter contado que mantinha um relacionamento extraconjugal. Em lágrimas, o homem de 46 anos mostrou-se arrependido. “Eu não fiquei bem após saber da traição”, afirmou, pedindo desculpa à filha do casal e aos sogros, “que não mereciam”.
“Não sei o que se passou nesse dia. É verdade que a matei”, disse o empregado fabril de 46 anos ao coletivo de juízes, ao recordar o dia em que disparou dois tiros de caçadeira contra Sílvia Mendes, em frente à fábrica de calçado onde a mulher trabalhava, em Refontoura, no concelho de Felgueiras.
No Tribunal, Sérgio Cunha recordou os dois dias que antecederam o crime, nos quais discutiu com a mulher quando esta lhe contou que mantinha um relacionamento extraconjugal e quando se encontrou com o homem com quem estava a ser traído e ele lhe disse que a mulher se relacionava com mais homens.
Quanto ao dia do crime, dia 6 de junho do ano passado, disse que acordou com intenção de matar a mulher. “Tinha aquilo na cabeça”, referiu, relatando os passos que deu até chegar à porta da fábrica e se encontrar com a esposa, a quem matou com dois tiros de caçadeira. “Depois derreei-me e passei-lhe a mão na cara”, contou, acrescentando que fugiu e se foi entregar às autoridades.
Reconhecendo que foi tomado pelos ciúmes e que sentiu que a mulher o traiu, assim como ao projeto de vida que tinham juntos, Sérgio Cunha mostrou-se arrependido. “Fiquei logo arrependido de a matar. Eu fiz mal a toda a gente, à família, à dela e à minha e à minha filha”, concluiu, assegurando que nunca esperou uma traição por parte da mulher.
“Quando o vi tranquei logo as portas”
Na sessão, e acompanhada de uma técnica da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, foi ouvida a irmã de Sílvia Mendes, com quem a mulher estava no carro, no dia em que foi morta pelo marido. Visivelmente abalada, relatou a discussão que a irmã e o cunhado tinham tido na antevéspera do crime e afirmou que o cunhado, nesse dia, apertou o pescoço da irmã e disse que a matava.
A irmã da vítima disse ainda que Sérgio Cunha era controlador e não deixava Sílvia Mendes vestir vestidos e usar decotes. Recordou os momentos vividos no dia em que o cunhado matou a tiro a irmã. “Quando vi o carro dele tranquei logo as portas”, contou, explicando que depois Sérgio Cunha atravessou o carro à frente do seu, passou por cima do capô para ir buscar a arma e disparou contra a irmã. “A minha irmã mandou-me fugir e eu fugi. Saímos as duas do carro e ele disparou o primeiro tiro para a zona do peito, muito perto dela. Passados dois ou três segundos ouvi o segundo tiro, mas já estava a fugir”, relatou, acrescentando que quando regressou para a beira da irmã, Sérgio Cunha já tinha fugido.
“Até eu ofendi a minha mãe”
Também a filha do casal quis falar em Tribunal. Disse que descobriu que a mãe andava a trair o pai, que andava desconfiada e começou a controlar o telemóvel da progenitora. E que na tarde daquele dia, a confrontou com a traição e lhe disse que tinha que contar ao pai. “Começaram a discutir a insultar-se. Até eu ofendi a minha mãe. Tratei-a mal e estou arrependida”, referiu.
A jovem disse ainda que viu o pai com a faca, mas negou que se tivesse munido de uma espingarda com o intento de tirar a vida à esposa.
Apesar de reconhecer que o pai era ciumento, a jovem garantiu que a mãe era feliz no casamento.