Invasão do capitólio ou sintoma de doença na Democracia

A obsessão com a “transparência” é a norma que as instituições parecem querer adotar. “Transparência”, surge no vocabulário político de forma inteiramente banal. Uma banalidade que conduz a extremismos legislativos e outros, cujo efeito é o inverso do que é propagandeado:  a corrupção não diminui – torna-se mais subtil-, a qualidade das decisões empobrece.

À custa da “transparência”, enchem-se panfletos, sítios “web” e toda a panóplia informativa, com uma quantidade de dados imensa, de difícil digestão, que (quase) ninguém lê.  Torna-se, deveras, desesperante consultar um sítio “web” de uma instituição no sentido de encontrar as soluções para que essa instituição foi criada. Acresce, que a “transparência” , com o advento das redes sociais, se torna na exposição pornográfica do político: ele é o paladino dos parabéns e o guardião da população que elege – nada é demais para ele “fazer boa figura”, para que a instituição saia imaculada.

Em geral, este artificio, cada vez mais utilizado, resulta, porque o número de pessoas a quem  se faz toda exibição é muito maior do que o das pessoas que sofrem com a ineficiência de grande parte das instituições. A maioria então tem tendência a desvalorizar a queixas dos outros, porque não sente o problema e deixa-se subjugar por todo aquele aparato do género “influencer” : os queixosos passam a negacionistas (rotulo que, como sabemos, passou a ter um valor absolutamente pernicioso).

Na verdade, a eficiência na resolução dos problemas para que foram criadas as instituições ou, se assim o pretenderem, os serviços nessas instituições, só é sublinhada a partir deste ou aquele interesse político: torna-se numa ferramenta retórica ao invés de uma ferramenta de conforto do povo. Essencial à retórica é a “transparência” do que se passa: a evidência passa a uma daquelas feridas que se remexe e se revela com a maior amplitude possível.

Entretanto, absorvidos nesta espécie de “decameron” do agora, esquecemos a eficiência que nos é devida para um futuro mais humanista, que rapidamente se torna passado, deixando como herança o produto dessa inépcia ignorante e mesquinha. O que precisamos é de instituições fortes, com capacidade estratégica e políticas de desenvolvimento em prol de um humanismo baseado na nossa integração no mundo. Não me lembro de alguém que com um problema, esteja preocupado com a transparência, quer é vê-lo resolvido. Para que cada problema não seja resolvido a contento de cada um , já que tal é gerador de incompatibilidades insanáveis, é que existem as instituições. Neste contexto, a “transparência” não é a característica essencial dessas instituições, mas sim a sua eficiência. Afirmá-la é uma eminente tarefa da política e dos políticos.

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