Apesar da sua forte presença na política, os meios de informação enquanto tal não têm poder em sentido próprio. Os meios de informação constituem, antes, uma atmosfera nebulosa de influências indirectas. São desprovidos de uma estrutura intencional inequívoca.
O espaço dos media é muito disperso, não há um actor determinado, nenhuma instituição, que os dirija na totalidade. O espaço da internet não é regido em absoluto, o que conduz ao aumento da contingência.
Não há poder sem influência, mas influência não é poder. A influência não está vinculada a continuidade e portanto só se produz de modo pontual, ao passo que poder implica espaço. Os media não se organizam por si mesmos, mas são possíveis muitas repercussões recíprocas entre os media e os processos de poder. Os media podem ser confiscados ou sequestrados por ações de estratégia de poder, mas podem também repercutir-se sobre a ordem do poder, desestabilizando-a.
Eis o motivo pelo qual o poder totalitário empreende a ocupação dos espaços dos media. Claro está que não se pode pensar a formação de uma opinião pública separada do desenvolvimento dos meios de informação.
A vida das pessoas gira em torno dos seus anseios. Anseios estes que vão sendo modelados por ações de reforço positivos e negativos. O comum dos mortais está acima de tudo preocupado com o seu dia a dia, cria toda uma experiência sensorial que comanda as suas ações, em que as ideologias servem apenas na proporção em que possam alimentar os tais anseios e sirvam de reforço positivo, para incentivar a ação de acordo com a sua convicção do momento ou de reforço negativo para recusar de forma veemente aquilo que contraria a mesma convicção.
Se por um lado a informação é consumida sem profundidade e de acordo com os processos de verificação toldados pelas mecânicas que referi anteriormente, por outro lado ninguém quer parecer ignorante e então, dentro da exposição do eu-sou hipertrofiado, dedica-se a partilhar a informação que positiva o seu anseio, muitas vezes, como se tivesse feito uma descoberta.
Este é o território fértil para a ampliação das notícias falsas, que sempre existiram, que subsistiram até há pouco tempo como desinformação, mas agora como “fakenews”.
As fake news acabam por ser uma radicalização do condicionamento da informação tão necessário aos processos de dominação. Como tal, são de muito difícil eliminação.
Por muito que todos tentem (ou não) elas estão sempre lá, basta olhar para o período que atravessamos. Estes processos são sempre complicados, porque partem normalmente de “fazedores de opinião”, intelectuais mais ou menos especialistas, mas que geram na população não esclarecida, certezas que vão de encontro à sua vivência.
Uma ajuda será a de dar voz a uma intelectualidade que possa colocar em prática uma dominação, porque ela sempre existirá, que beneficie o maior número de seres humanos, embora isto possa ser sujeito à corrupção do poder induzido.
A ferramenta mais eficaz será talvez a da educação, que é também um processo de dominação, mas que possibilite um conjunto de ferramentas e sobretudo uma ginástica mental que aumente a capacidade de cada um filtrar a informação e até a de a recusar pura e simplesmente optando por uma contemplação da vida ao invés de soçobrar à hiperinformação.
O ser humano acaba por não se importar com a dominação, na medida em que lhe permite levar a vida com o maior conforto possível.
Nesse sentido é um pouco como os animais domésticos. De modo que é muito difícil contrariar o efeito de todo o arsenal utilizado pelos processos de dominação.
O foco assim, talvez seja, de forma pragmática, manter em alta aquele sentimento de liberdade – sempre condicionada-, em democracia, como sendo, apesar de tudo, a forma mais confortável de viver.