Zé Amaro
Fotografia: Direitos Reservados

Depois de dois anos de paragem forçada devido à pandemia, as festas de verão e arraiais populares estão de volta, permitindo aos artistas portugueses o tão ansiado regresso aos palcos.

Os últimos tempos foram difíceis, não só do ponto de vista profissional, mas também do ponto de vista financeiro, colocando muitas vezes em causa a subsistência não só dos músicos, mas de todos aqueles que trabalham na produção de um espetáculo.

Agora, é tempo de regressar, de voltar a trazer a música às festas e festivais de verão e é com muita satisfação e emoção que os artistas encaram este regresso. É o caso do cantor Zé Amaro, que em entrevista ao Jornal IMEDIATO falou do seu trabalho, do seu percurso – que se iniciou num programa televisivo de talentos – e deste regresso, que considera “vital” para o Portugal, um país que tem “um cancioneiro popular brilhante”.

Como o arranque do verão e com o regresso de várias festas populares, Zé Amaro, um dos mais acarinhados artistas da música popular portuguesa, dentro de portas, mas também junto das comunidades portuguesas no estrangeiro, vai ser figura assídua nas festas da região, caso da Agrival, em Penafiel, nas Festas de São Pedro da Raimonda, em Raimonda, Paços de Ferreira, entre outras – e confessa estar muito feliz com este regresso aos palcos.

– Este ano já permite aos artistas portugueses regressar aos palcos. Como tem sido este regresso?

O regresso aos palcos tem sido vivido com muita emoção, muita alegria e uma satisfação imensa poder voltar a fazer o que amo. Foram tempos muito difíceis, pois a minha equipa é grande e muitos dos músicos, técnicos e bailarinos são profissionais da área e tiveram em causa a sua subsistência.

– Sente diferenças entre os espetáculos realizados antes da pandemia e agora?

Sinto que o público se entrega totalmente pós pandemia, com mais emoção com mais alegria e que aproveitam ainda mais o momento. É vital que os concertos em Portugal estejam de volta, em especial ao ar livre nas festas e romarias, pois as nossas gentes são muito bairristas e que vivem as nossas tradições orgulhosamente.

– O Zé Amaro é um cantor popular, largamente reconhecido em Portugal, mas também nas comunidades emigrantes. Como se faz este percurso?

Na verdade, o público é o júri final, o segredo é o respeito, o profissionalismo e dar o melhor de mim em cada concerto, seja esse para 10 ou 10 000 pessoas, a entrega, a originalidade, sem capas e sem máscaras, pois o público mais cedo ou mais tarde percebe se é verdadeiro ou não. Ter um estilo, uma linha bem vincada seguindo-a acreditando seriamente nessa orientação. Creio que com esses fatores, tudo acaba mais cedo ou mais tarde por acontecer.

– Foi importante a sua participação em programas como Chuva de Estrelas e Cantiga da Rua. Foi uma rampa de lançamento?

As participações nesses programas foram absolutamente importantes para perceber o que deveria (não fazer). E depois dessas participações percebi que as televisões não seriam o caminho que queria para a minha carreira naquele momento. Senti que me estaria a afastar do público que me viu nascer, o público que se acostumou a ter-me perto e presente, e nesses meios sentia-me um pouco mais distante. Daí repensar e nunca mais ter descorado esse meu público que no início já me seguia. Fui trilhando caminhos para que um dia fosse convidado, já com um estilo vincado é isso foi acontecendo naturalmente… O público, as pessoas sim, colocam-nos onde de direito.

– A música popular portuguesa é um género musical que está muitas vezes associado às pessoas mais velhas. É esse o sentimento que tem?

Não concordo com isso. Falo no meu caso, o meu público é absolutamente transversal e é um privilégio segundo os pais “ter bebés que já nascem fãs”. Ter a plateia recheada de adolescente, jovens, muitíssimos casais e até de muita, muita, idade. A música é música no mundo inteiro e não escolhe idades. Tenho em mim a experiência da valorização da música Country nos Estados Unidos que não passa de uma música absolutamente tradicional pura e a valorizam de uma forma incrível. Devemos dar valor ao que se faz em Portugal porque temos muita história e um cancioneiro popular brilhante.

– Quais são as maiores dificuldades que tem um cantor?

As maiores dificuldades são sem dúvida a profissionalização. Sou profissional artístico há cerca de 30 anos e denoto que em Portugal haverão por certo mais de 80% dos artistas que não existem fiscalmente, haverão por certo algumas razões para que isso aconteça.

No meu caso, senti bastante dificuldade em elevar a minha música ou colocá-la nas grandes salas do nosso país, e é que as pessoas professem pagar entrada para assistir, seria um estigma, seria um preconceito, não sei, mas com muito esforço consegui.

– Sente que a cultura é considerada pelos governantes?

Penso que a pandemia veio mostrar que o apoio à cultura em Portugal é praticamente inexistente. Todos percebemos que fomos os primeiros a sair de cena e os últimos a entrar, os apoios a quem realmente existe fiscalmente, tal como eu, foram praticamente nulos.
Toda essa fragilidade da área foi posta ainda mais descoberto nessa fase. Acho na verdade que os apoios só contemplam os considerados “elites”, se é que na realidade existem.

– O que mais poderiam fazer pelo Vosso trabalho?

Sinto que é um problema estrutural de formação educacional. Caso considerassem a cultura tudo no país seria diferente para melhor, desde os impostos nos concertos, nas entradas dos mesmos assim como nos instrumentos musicais entre muitos outros, poderiam ajudar em muito.

– Que conselho daria aos jovens que aspiram fazer carreira na música?

Aos jovens sempre que sou abordado, faço-lhes entender que com formação tudo será menos difícil, e que quando sentimos profundamente aquilo que queremos e amamos, é esse o caminho a seguir. Sinto que uma grande parte dos jovens mesmo tendo a vida mais facilitada, procuram desesperadamente o sucesso e o sucesso constrói-se com tempo, com e com bases sólidas.

– Passou por um período complicado em termos de saúde. Isso tornou o Zé Amaro de hoje, diferente daquele que era no passado?

Momento muito difícil, mas de aprendizado constante. As mudanças são inevitáveis, mais propriamente na forma de ver a vida, realizar os sonhos no mais curto espaço de tempo, mais tempo para a família, para os amigos e claro se me foi permitido a dádiva da vida aproveitar seguindo cantando, estar com o meu público e fazer o que mais amo.

A vida vale a pena ser vivida.

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