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O teletrabalho passou de uma tendência de futuro, com as ações de confinamento impostas como resposta ao Covid 19, a uma realidade no presente. Um presente em que o mundo, ainda não recuperado da pandemia, se vê confrontado com contingências internacionais, das quais se destaca, evidentemente, a guerra na Ucrânia, que levam a uma inflação cujo valor teima em aumentar. Mas, sobretudo, estamos perante uma realidade diferente em muitos aspetos.

Um destes aspetos, onde o paradigma parece estar a mudar, é o da mobilidade. Há poucos dias, um estudo publicado num jornal nacional apontou para o facto de as horas de ponta – nas grandes cidades, objeto do estudo- se estarem a diluir, observando-se grandes massas de tráfego ao longo do dia. A este, junta-se aquele decorrente do turismo, com a normalização das viagens. O primeiro, é atribuído, justamente à possibilidade do teletrabalho que está a ser concedida pelas empresas e aceite pelos trabalhadores na modalidade hibrida: trabalho a partir de casa e trabalho no escritório. A gestão do tempo e espaço torna-se ainda muito mais flexível.

Esta flexibilidade traz consigo oportunidades para outras localidades onde o padrão de vida pode, ainda, ser incrementado com alguma facilidade. Isto encaixa como uma luva na região do Vale do Sousa. A sua situação em termos de acessibilidades aos grandes centros é, em geral, salvo algumas exceções, bastante boa. O grau de infraestruturação necessita de desenvolvimento, o que tem sido feito, mas que para o objetivo aqui expresso até se pode constituir como uma vantagem. Uma vantagem enquanto capacidade de flexibilidade de mudança de estratégia.

A estratégia terá que partir da premissa inversa da que tem sido seguida, isto é, deverá assentar naquela que garanta padrão de vida independentemente da oferta de emprego, a qual pode existir noutro sítio qualquer. O tratamento já não é o devido a um dormitório satélite de um qualquer grande centro, de um qualquer investimento em larga escala, mas sim, de um lar. Um local de vida aprazível, onde ela possa decorrer a uma velocidade menor, onde o tempo possa ser aproveitado com o que tem mais valor ao invés de o passar em trânsito, onde a comunhão com a natureza se constitua como uma realidade genuína.

Para este objetivo, as autarquias deverão adotar políticas dirigidas à criação de infraestruturas, à oferta de educação até ao último grau antes do ensino superior, a propostas culturais e naturais que acrescentem valor em termos de expectativa de felicidade. Se o emprego pode estar a muitos quilómetros de distância, num qualquer centro onde a pressão económica tudo esmaga e o trabalhador só lá tem de estar fisicamente alguns dias, porque não essa pessoa escolher um local onde possa viver , logo há partida, com um custo da habitação muito inferior, onde não tem que passar horas no trânsito, onde tem tudo à mão, até… a natureza.

Este é um desiderato que deve impregnar-se na população, a opção pelo alto padrão de vida. Como terão reparado, falo em padrão de vida por contraposição a vida de qualidade: a primeira diz respeito à vida que nos preenche, a segunda à vida que se baseia à vida com riqueza material. Esta, embora possa ajudar a primeira, não é, contudo, condição essencial para que essa se realize. Portanto, mediante uma aposta no padrão de vida e perante a nova realidade, há que saber aproveitar a oportunidade de repovoar zonas, que como a do Vale do Sousa, tem estado constantemente a perder população e sobretudo conseguirmos viver numa zona que assim deixará os índices menos favoráveis de desenvolvimento humano.

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