Autor de: "eu" "Objetivo" "Eleito" "56" "Amarante" "Placa" "Fechado" "Crianças" "Radiante"; Pingo-Doce" "Obrigado" "Abragão"; "Droga", "Ciclistas"; "Calçada", “Isto é próprio de um país saloio(…)”,"Green” blá, blá, blá. “Clean”, blá, blá. “Healthy”, Blá blá, blá blá…

Sem saudosismos… mas com memórias…

Já lá vai algum tempo. Mas nada de transcendente. Durante toda a minha infância foi assim. Quem dava as prendas era o Menino Jesus… Deixávamos um sapato na lareira em véspera de Natal e íamos para a cama, mas só o cansaço da vigília (tentávamos ouvir o que quer que fosse para ter a certeza que o Menino Jesus tinha vindo) nos fazia adormecer. Era com espanto e surpresa que, no dia seguinte, bem pela manhã, verificávamos que o Menino Jesus tinha passado por nossa casa e nós não estávamos atentos. Ali estava a prova… as prendas no sapatinho. Entre outras coisas, nunca se esquecia de deixar um punhado de pinhões, pinhões com casca, bem negros. Com uma pedra (tradicionalmente, um peso de balança) lá partíamos a casca e deliciávamo-nos com o manjar mais especial… mesmo que na véspera tenhamos comido muitos. Depois dos rituais de aquecer as pinhas na fornalha do fogão de lenha, batê-las na pedra da lareira e apanhar os pinhões que elas deixavam cair, era tempo de tirar a casca exterior e retirar, também, a fina membrana que protegia o miolo. Havia pinhões nos “formigos”… Mas os que realmente interessavam eram os do sapatinho.

Outra memória… talvez com saudosismo… era a Missa do Galo, ou Missa da Meia-noite. Saíamos de casa e íamos, noite escura (e fria) engrossando o cortejo de gente que se dirigia para a igreja… muitos traziam lampiões e iluminavam o caminho. Os mais pequenos encontravam os amiguinhos e iam todo o caminho em correrias entre os adultos, que conversavam animadamente. É certo que o comportamento de alguns, depois da ceia de véspera de Natal, bem regada (e pouco comida…), não era o mais adequado para a Casa do Senhor… Havia, frequentemente um grupo que “inusualmente”, se instalava no coro-alto e era um forró todo o tempo. E por isto, para tristeza de muitos, que nada tinham a ver com esses comportamentos, deixaram de poder usufruir desse momento em que todos eram mais iguais que nos dias comuns e todos falavam com todos… Aqui e ali foi deixando de haver este momento em que a Casa de Deus estava aberta aos seus filhos para uma visita em momentos mais descontraídos, provavelmente mais verdadeiros.

Na época, Portugal era um país de católicos… mas havia ricos e pobres… católicos iguais mas pessoas diferentes. Sobretudo, crianças ricas e crianças pobres!

E o tempo foi pondo a estrela a guiar o Reis Magos, não para a modesta gruta onde nascera o Filho de Deus, mas a guiá-los para as cidade, para as casas do pai-natal…

O tempo passou e a cidade iluminou-se… O brilho de montras e vitrines fazia os olhos dos sonhos ganharem luz.

Continuamos a ser um país de católicos… e continuamos a ser um país onde há crianças ricas e crianças pobres (sim, todos sabemos que não é só cá… ).

Quando adorávamos o Menino Jesus não conseguimos mudar o que realmente era importante. Adoramos agora o pai-natal… e não se adivinha que consigamos mudar o que é realmente importante…

Quem teremos de adorar para que o realmente importante seja o mais importante? A todos um Bom Natal!

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