A plataforma online de conteúdos audiovisuais Netflix tem disponível no seu catálogo desde o início deste mês, a série de comédia Seinfeld. Esta série teve enorme sucesso nos anos 90 e tornou-se um marco na televisão a nível mundial. O último episódio foi transmitido em 1998 e é, ainda hoje, um dos programas mais vistos de sempre.
Esta série ficou conhecida como a série “sobre nada”. Uma série em que 4 amigos, cada um com as suas particularidades, viviam o dia a dia comum de 4 nova iorquinos, mas que podiam ser parisienses, londrinos ou lisboetas. Todos os “problemas” que as pessoas têm no dia a dia eram esmiuçados nesta série. Escrevo problemas entre aspas porque se trata de problemas de 1.º mundo, como diz um amigo. Situações criadas pelos próprios e que facilmente nos revemos nalgum momento da vida. O restaurante que gostamos de ir e que não deixamos os nossos amigos fazerem alguma crítica porque queremos continuar a ir lá, não encontrarmos o carro no parque de estacionamento do shopping, ir à casa de banho onde não devemos ou amplificar a importância de caraterísticas físicas de alguém que estamos a conhecer (o tamanho do nariz, a forma de vestir, a forma de falar, o aborrecido que é alguém comer pipocas no cinema, tc).
Como podemos ver, a série “sobre nada” é, afinal, a série “sobre tudo”. Porque a nossa vida é isto. Os nossos pequenos mundos criados pela neurótica capacidade que temos de interpretarmos a realidade à nossa maneira. A única diferença do que se passa em Seinfeld e a realidade é que na realidade não verbalizamos o que pensamos a não ser com o nosso círculo (muito) fechado de amigos/ relações. As personagens de Seinfeld faziam-no para milhões de pessoas que sentiam que alguém os percebia e naturalmente estas pessoas reviam-se na mimetização que observavam em episódios de 22 minutos. Porque, repito, a vida é isso e essas vivências e não sermos heróis improváveis que sobrevivem a ataques terroristas, disparos de metralhadora, ou atletas extraordinários ou ainda detetives infalíveis como o que se vê na esmagadora maioria das séries e filmes.
Estou a rever esta série e ao pensar na sua genialidade tão simples, penso na nossa vida diária e o que realmente importa quando votamos em eleições autárquicas. Por muita transição energética que queiramos, sustentabilidade no consumo, utilização de energias renováveis, planeamento de cidades dos 15 minutos, ciclovias e outras ações de médio/ longo prazo, o que conta para quem tem um voto livre é o dia a dia. O trânsito, o estado da estrada que usa de casa para o trabalho, o tempo de espera no hospital, a limpeza dos parques, a segurança, quanto paga pela sua casa e pelos combustíveis. Alguns Presidentes de Câmara perceberam já tarde o que realmente importa.
Uma das melhores séries de sempre, que se gaba de ser uma série sobre nada é, afinal, uma série sobre tudo. As políticas de proximidade devem ser a mesma coisa. Algumas ações de nada, fazem a diferença em tudo na vida real das pessoas.
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