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Gosto muito de futebol, mas tenho uma relação paradoxal com este desporto, que por um lado me entusiasma, emociona e cuja a estética considero admirável, mas pelo outro, sinto vergonha de gostar de algo que desce a níveis de decência e honradez demasiados baixos e que adultera toda a lógica da nossa racionalidade e lucidez.

Aliás, invejo aqueles que não se estimulam com o futebol e se orgulham de não passar patavina a este desporto e ao universo de demência que o rodeia.

A incomensurável popularidade do futebol, como é óbvio, fazem dele um produto valioso e apetecível, transformando-o num negócio monstruosamente extrapolado em comparação com os conhecidos parâmetros de uma economia dita normal.

Este mediático desporto é na atualidade um apetecível cocktail, cuja a combinação perfeita dos vários ingredientes, resulta numa mistura atrativa de cores fluorescentes, sabores fortes e com aquele fulgor ébrio na medida certa. O futebol proporciona aos vários “players” momentos sociais de elevada visibilidade, permitindo-lhes deambular em torno de negócios e rendimentos colocados numa fasquia muito difícil de atingir numa qualquer outra atividade profissional. Acrescente-se a isto uma boa dose de clubismo, uma pitada de espetacularidade que reconhecemos a este belo desporto, a ânsia de poder já perfeitamente identificada no Ser Humano e o Futebol, desporto de origem humilde e espontânea, transforma-se numa odiosa e selvática batalha assente no dinheiro e na clubite.

A comprovar esta ideia que tento transmitir neste texto, veja-se como agentes desportivos, jogadores, treinadores e adeptos aceitam e convivem com este tipo de hábitos recorrentes nos funcionalismos do futebol:

  • Culpas dos insucessos dos clubes atribuídas aos juízes que zelam pelo cumprimento das regras desta modalidade, por forma a que direções, treinadores e jogadores se mantenha impolutos e desresponsabilizados;
  • Jogadores estimulados por ambientes febris jogam à margem da lei pondo em risco integridade física do seu adversário;
  • Jogadores motivados por quem os comanda teatralizam momentos do jogo enganando os juízes em seu benefício;
  • Jogadores que iludem simulando necessidade de assistência médica, para que o tempo de jogo decorra em seu benefício, prejudicando o próprio espetáculo;
  • Treinadores, dirigentes e jogadores que assumem discursos com elevado grau de animosidade e falta de cordialidade com adversários, para agradar à falange de adeptos que fazem do ódio uma forma existir;
  • A comunicação social assenta a sua comunicação na divulgação e exploração de ações de agravo e escarafuncham até ao tutano o erro, em vez de divulgar o soberbo;
  • Adeptos que preferem provocar e insultar adversários ao invés de apoiar o clube do seu coração;
  • Dirigentes que se servem dos clubes em vez de altruistamente os servirem;
  • Claques de futebol que se consideram acima da lei e a transgressão é o principal alimento da devoção pelo seu clube;

Esgrimem-se atividades dúbias de bastidores, que são aceites e exaltadas pelo comum adepto, que reconhece que “tem de ser assim” para se alcançar o sucesso…, mas o quê!!?

E a maior estranheza e perplexidade que me invade é perceber que o comum adepto do futebol, parece dar mais atenção à discussão em torno deste rol de perturbações que elenquei que à beleza e emoção do jogo jogado.

Este tipo de comportamento não é compatível com uma promoção saudável e positiva do que deveria ser o desporto, e poderia até enfraquecer a modalidade e consequentemente condenar a sua própria atividade económica, mas estranhamente a popularidade e a importância do futebol continuam a subir.

Se calhar não é o futebol que está doente, quem está doente é esta sociedade que se alimenta dele!

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