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Há dias, passou-me pelo rodapé de um momento de leitura a seguinte frase de Erich Fromm, um filósofo e psicanalista do século passado: “O perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O perigo do futuro é que os homens se tornem autómatos”.

Vem isto a propósito dos tempos em que vivemos. Entre um passado nem sempre auspicioso, mas do qual, de repente, sentimos nostalgia, um presente titubeante e um futuro incógnito. Vivemos por isso, num entretanto.

Esse parêntesis da nossa História coletiva deve fazer-nos parar para pensar. Afinal, quantos lutaram, quantos morreram e sofreram, se tornaram mártires ao longo de séculos para alcançarmos o bem maior da condição humana: a liberdade! Para fugirmos desse perigo que mais temiam os homens do passado: a escravidão. Fosse ela física, intelectual ou simplesmente da escravidão provocada pela miséria, pela pobreza ou pela falta de acesso à saúde.

Mas o futuro que nos espera não deixa de configurar a dita incógnita. Por vezes, inquietante. No caldeirão em que a Humanidade ferve em lume brando, aquecem os novos extremismos, modelam-se as mentes pela leve espuma das redes sociais, tolhe-nos o medo provocado por um parasita invisível.

É um tempo novo da nossa Civilização, mas que, por incrível paradoxo, afinal já o vivemos. Quantas vezes o homem teve se enfrentar fanatismos? Quantas vezes teve de lutar contra os manipuladores das mentes dos mais simples? E quantas outras vezes foi o Homem tolhido pelas forças invisíveis e imprevisíveis da Natureza, ou das epidemias que ceifaram legiões de seres humanos, ou teve morrer pela liberdade?! Afinal, embora mais sofisticado e com maior esperança de vida, não é tão novo assim o que tempo vivemos e o que temos pela frente.

O avançar da Civilização surge, deste modo, como uma espécie de espiral em cuja ascensão, no tempo que não pára, os seus círculos nunca se tocam, mas cumprem o mesmo e eterno fado de repetirem os mesmos avanços e fracassos, na busca de uma inalcançável perfeição, felicidade e respeitada convivência. Por isso, aquelas ditaduras não são novas.

Ora, se a preocupação de Erich Fromm era que o perigo do futuro fosse que os homens se tornassem autómatos, em vez de escravos, eu pergunto: um autómato não é, afinal, um escravo?

O desafio do novo tempo é o de não sermos nem escravos nem autómatos, mas sim o de prosseguirmos como lutadores pela liberdade: contra o medo, a manipulação, a miséria, a segregação, a desesperança.

Por isso, neste entretanto que a vida nos concede, em que um ser invisível nos forçou a parar, saibamos todos refletir sobre que futuro queremos para não sermos nem escravos nem autómatos. Antes que seja tarde…

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