A pandemia está a causar, desde março do ano passado, constrangimentos a vários níveis no país, um deles a nível de prestação de cuidados de saúde. De acordo com os dados do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), analisados pelo IMEDIATO, realizaram-se até novembro do ano passado menos 9.021 cirurgias e 26.049 consultas no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), quando comparando com o mesmo período do ano anterior.
Contas feitas, o número de cirurgias realizadas no Hospital Padre Américo, em Penafiel, e Hospital de São Gonçalo, em Amarante, caiu aproximadamente 18,73% entre 2019 e 2020, passando de 48.178 para 39.157.
Analisando o ano “pandémico” de 2020, a maior quebra aconteceu mesmo entre o mês de março e de abril, que coincide com o início do primeiro confinamento e o estado de alerta que se viveu face à novidade que era o novo coronavírus em Portugal. Em abril realizaram-se 907 cirurgias em todo o mês no centro hospitalar.
Já a partir do mês de setembro, foi notória uma nova descida nas cirurgias realizadas, ainda que inferior da registada entre maio e abril. Recorde-se que no final do mês de outubro o CHTS encontrava-se num estado de rutura, depois de semanas de pressão devido ao “tsunami” de casos positivos – e internamentos –na região.
O ano de 2020 também registou, de acordo com a mesma fonte de dados, uma diminuição de 8,85% no número de consultas realizadas no centro hospitalar. Se, em 2019, foram 294.388, no ano passado foram apenas 268.339, o valor mais baixo desde 2016.
Os valores mais baixos registaram-se, à semelhança do que se verificou a nível de cirurgias, nos meses de março e de abril, sendo que também depois de outubro é notória uma nova quebra. Tanto a nível de cirurgias como de consultas, quebrou-se no ano passado uma tendência de aumento que se registava desde 2016, com uma subida gradual que atingiu o seu pico no ano de 2019, quebrado pela pandemia.
Houve uma “diminuição da atividade”, reconhece CHTS
Questionado pelo IMEDIATO, o presidente do Conselho de Administração do CHTS, Carlos Alberto Silva, admitiu uma “diminuição de atividade” no centro hospitalar durante o ano passado, afirmando que se conseguiu reduzir o limite máximo nas listas de espera quer para cirurgia, quer para consulta.
“Houve obviamente doentes a desmarcar consultas e cirurgias, como houve desmarcações por iniciativa do hospital, mas a preocupação foi de garantir resposta aos doentes não covid”, explicou o responsável. Segundo o mesmo, tal objetivo foi atingido através de uma redução do limiar máximo das listas de espera no CHTS.
“Depois de um grande esforço” para melhorar a prestação de serviços do CHTS, atingindo um limiar máximo de 12 meses no ano de 2019, em 2020, ” mesmo em contexto de pandemia” as listas de espera para consulta e para cirurgia ficaram com limiar máximo de 9 meses, exceto em algumas situações de cirurgia ortopédica.
Para Carlos Alberto Silva, esta redução no limiar máximo das listas de espera “é um bom exemplo a nível nacional”, tendo sido possível através do alargamento do quadro médico nos últimos anos, nomeadamente em áreas mais “sensíveis” como a cardiologia, pneumologia, infeciologia ou reumatologia.
Afluência “historicamente elevada” à urgência na base da rutura do CHTS
Também a afluência à urgência do CHTS foi dramaticamente inferior ao registado nos últimos anos,
com menos 14,44% em comparação a 2019, de acordo com os dados do Portal de Transparência do SNS. Enquanto em 2019 se registaram, de janeiro a novembro, 177.254 atendimentos em urgência, em 2020 foram 151.160, o valor mais baixo dos últimos anos.
Contudo, o número de atendimentos nas urgências do CHTS registaram vários altos e baixos ao longo do ano, que, de acordo com o presidente do Conselho de Administração do CHTS, Carlos Alberto Silva, podem ser explicados com a pandemia.
“Em 2020, a afluência à urgência sofreu enormes oscilações, ao ritmo das evoluções da pandemia de covid-19. Nos períodos iniciais da pandemia houve uma grande redução da afluência às urgências, quer por medo dos doentes, quer por diminuição das falsas urgências (doentes que habitualmente recorrem indevidamente à urgência e que nesta altura se retraíram nesse acesso)”, sublinhou.
Contudo, quando a região sofreu o “tsunami” de infeções de covid-19, entre outubro e novembro, registou-se um novo pico, que superou mesmo alguns valores pré-pandemia.
“Quando os concelhos registavam mais de 4.000 casos positivos por 100.000 habitantes, o recurso à urgência foi historicamente elevado, tendo originado a pressão bem conhecida de todos em Outubro e Novembro”, reforçou o presidente da administração do CHTS.