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Sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um episódio que muda completamente a vida de uma pessoa. As mazelas físicas que a doença deixa, são quase sempre muitas, e a estas somam-se as psicológicas, só enfrentadas pela capacidade de resiliência dos doentes, mas também pelo trabalho desenvolvido pelas equipas médicas e pelo empenho das famílias, essencial na recuperação.

Pela importância de debater o assunto, de partilhar experiências e conhecimento, a Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa associa-se à Portugal AVC para um encontro que junta profissionais de saúde, sobreviventes e familiares, que decorreu na Casa da Cultura de Paredes.

Nesta unidade hospitalar, o Serviço de Medicina Física e Reabilitação, acompanha mais de nove mil doentes por ano – entre internados e doentes externos em tratamento – e destes, cerca de 20%, são acompanhados devido a um episódio de AVC.

Entre estas centenas, estão Lúcia Pinto, de 58 anos, uma empregada de escritório, de 47 que não se quis identificar e Fernando Barbosa, de 57 anos, que são acompanhados por uma equipa multidisciplinar, que trabalha na área da fisioterapia, da terapia da fala, da psicologia e psiquiatria, da terapia ocupacional, entre outros. Além da reabilitação esta equipa atua ainda na área social, na preparação do regresso a casa do doente, procurando apoiar na criação de condições que se adaptem mais facilmente ao seu novo estado.

Doentes lutam batalhas diárias

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Lúcia Pinto tem 58 anos e é do Marco de Canaveses. Está internada no Hospital Padre Américo há uma semana, depois de ter sofrido o seu segundo AVC – sofreu o primeiro com 34 anos. Segundo a paciente, estes episódios surgem na sequência de uma doença que tem diagnosticada – lúpus – que lhe tem trazido alguns dissabores ao longo da vida, a última das quais há uma semana e ainda a mantém internada. “Está a correr bem. Cheguei aqui sem sentir o lado esquerdo do corpo, mas agora com a reabilitação, já me sinto melhor”.

Depois de um AVC afirma, “a vida nunca mais é a mesma”. “E se não fosse a ajuda que me dão aqui, era impossível recuperar”, referiu a paciente, na incerteza do que virá a seguir, mas com vontade de lutar. “Todos os dias tenho que lutar para ultrapassar e é preciso muita coragem”, acrescentou.

Uma luta diária é também travada por uma empregada de escritório, de 47 anos, que a 13 de maio teve um AVC. Acompanhada pelo marido Vítor Carneiro, esta mulher de Vilela, do concelho de Paredes, perdeu a capacidade de falar e de andar e depois de vários dias nos cuidados intensivos no Hospital de Santo António, no Porto, e de uma estadia num Centro de Reabilitação, regressou a casa no início de agosto e prossegue o tratamento no Hospital Padre Américo, em Penafiel.

A doença chegou em silêncio, mas criou um grande tumulto no casal, que tem uma filha de 22 anos, alterando totalmente a rotina familiar. Segundo Vítor Carneiro, a mulher era “superativa, trabalhadora e saudável” e tudo isso desapareceu, “sem a certeza de que algum dia possa voltar”. “Mudou a nossa vida para sempre, tínhamos uma vida estável”, concluiu Vítor Carneiro, que se encontra de baixa médica, para poder dar a retaguarda familiar que a esposa precisa.

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Stress provocou AVC a Fernando Barbosa

Fernando Freire Barbosa, tem 57 anos, é de Guilhufe e a 11 de abril teve um AVC. “Foi o stress”, referiu este carpinteiro de profissão, que na altura do episódio geria uma carpintaria em Bitarães, no concelho de Paredes.

Estava a trabalhar quando se sentiu “diferente”, com menos força no corpo. “Senti que não estava bem, mas não tive dormências nem nada”, recordou.

Voltou para casa no final do dia e regressou ao trabalho no dia seguinte com a mesma sensação. Trabalhou meio dia e veio-se embora e foi ao médico. “Mandou-me fazer um TAC urgente, mas no privado, marcaram-me para junho e acabei por ir ao Hospital Padre Américo, três dias depois. Fiquei logo internado”, referiu.

Fernando Barbosa esteve 12 dias no hospital. Fez tratamentos e voltou para casa, mas continua ainda hoje a fazer fisioterapia no Hospital para melhorar a mobilidade numa perna e num braço. “Mas com a ajuda da reabilitação começam a melhorar”, referiu o homem, que teve que deixa de trabalhar, mas que já consegue fazer “praticamente tudo, sozinho, em casa”.

“Ter um AVC muda completamente a vida das pessoas. Mas luto todos os dias que a vida volte ao normal e tenho esperança nisso”, concluiu.

20% dos doentes acompanhados foram vítimas de AVC

O serviço de Serviço de Medicina Física e Reabilitação da ULS-TS acompanha cerca de 9 mil doentes por ano, dos quais 20% foram vítimas de AVC. “Esta é a maior patologia do hospital. Chegamos a ter 200 camas de internamento com doentes vítimas de AVC. Aqui o doente é tratado na fase aguda da doença, durante seis ou sete dias e quando chega à altura de ter alta vão para as valências que podem continuar o tratamento, ou vai para o domicílio se tal for possível”, referiu Fátima Martins, diretora do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação da unidade hospitalar.

O processo de reabilitação de um doente vítima de AVC começa logo no pós-AVC, na fase de internamento, quando os doentes graves, na fase aguda, recebem tratamento por um período de seis ou sete depois. “Depois, quando tem capacidade para ter alta, dependendo das suas necessidades, podem ir para uma unidade de cuidados continuados de curta, média ou longa duração, ou é reencaminhado para o Centro de Reabilitação do Norte, ou para o Hospital da Prelada, que também desenvolve este trabalho de recuperação. “Ou vai para o domicílio, no caso daquelas situações que correram melhor, ou quando o doente tem uma família que lhe possa dar o apoio que necessita, apesar dos seus défices serem muito incapacitantes e aí vem fazer o tratamento como externo ao hospital”, explicou a médica.

A ULS-TS tem ainda 200 camas externas contratualizadas em cinco hospitais, que acolhem aqueles doentes para que não a unidade não tem capacidade de acolher, mas que mantém a necessidade de internamento.

O processo de reabilitação dos doentes engloba vários serviços e valências do hospital, todos alinhados e coordenados na sua recuperação e integração. “Só este trabalho, a funcionar de forma coordenada, é que nos vai levar a bom porto”, garantiu Inês Cunha, a médica fisiatra responsável pelo apoio ao nível do AVC. “Este processo pode demorar desde 15 dias, até à vida toda. E a grande maioria é a vida toda, apesar de quando falamos em vida toda, não com necessidades diárias, mas um doente com AVC precisa de fisioterapia pelo menos dois ou três meses por ano, todos os anos da sua vida”, referiu Fátima Martins.

O caminho é para o sucesso de tratamento, embora seja relativo medir este sucesso, em função das mazelas que a doença deixa. “O grau de autonomia e de funcionalidade dos doentes é muito diferente. Para alguns doentes queremos que sejam capazes de retomar a sua atividade profissional prévia, a outros tem que se pensar em prepará-los para não retomar essa atividade e encaminhá-los para sítios que lhes possam apresentar alternativas de desenvolvimento de outras atividades profissionais e a outros sabemos que a dificuldade de regressarem ao meio laboral será difícil e tem que se preparar estratégias, preparar as famílias, famílias que sofrem com estes eventos a diversos níveis”, explicou Manuela Martinho, a fisioterapeuta do Serviço.

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